Competições Implícitas

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Essa semana eu fui a uma formatura. Eu estava muito feliz de comemorar aquela graduação, mas sentia que eu não tinha me preparado muito. Eu até arrumei uma roupa legal e engraxei meu sapato. Na verdade não era um sapato, era um tênis, mas você já viu como é linda a combinação de um tênis preto desbotado com uma bisnaga de Nugget? Pois é.

Engraçado pensar que a adição da letra S a uma tinta de sapato pode transformá-lo em uma fritura apetitosa. Enfim, eu tinha me preparado, mas não da forma correta.

Eu me sentia tipo aquele corredor que foi pras olimpíadas do Rio e deu entrevista falando que odiava correr. Eu até queria tá lá, mas não para cumprir o papel que me foi designado.

Atleta olimpico dando entrevista

“Descobri que odeio correr. Eu odeio fazer isso. Mas estar aqui é incrível. Não tenho palavras para descrever.”

Eu sempre tive apreço por competições implícitas, sabe? Aquelas competições que nunca foram definidas, mas que os participantes sabem que estão inseridos. Como por exemplo, tentar ultrapassar um idoso que corre enquanto você apenas caminha rápido. Você sabe que se ele não estivesse lá seu passo seria mais lento, mas ele está e você precisa ultrapassá-lo. A magia da competição implícita se faz presente: caso você ganhe, você terá o direito de se vangloriar; caso você perca, não há o que se preocupar, afinal você nem estava em uma competição.

Mas existe uma competição implícita que eu nunca pedi pra participar, uma competição que eu entrei sem querer: A guerra das famílias de formandos para ver quem grita mais alto. Nessa competição eu sou o idoso que corre trotando sem olhar pro lado, com um único foco: a janta de comemoração da formatura.

E os jovens são cruéis, eles levam balões, eles gritam, eles resgatam artigos sonoros típicos de um país que recentemente sediou uma copa. Não, infelizmente eu não estou falando da caxirola.

“A caxirola também tem um sentido transcendental de cura, enfim, de paz com o mundo, de estar de fato em sintonia com a natureza e com todos os orixás”

A família que grita mais alto só é vencedora na própria cabeça, afinal tanto esforço para se destacar na cerimônia deixa transparecer uma falha grave: a dificuldade de se reservar uma mesa para tantas pessoas barulhentas em um restaurante legal.

No fim, o idoso beija sua esposa após uma corridinha pra manter a pressão controlada. Já o jovem precisa contar essa glória para os amigos enquanto bebe na fila de uma festa que ele nem vai entrar.

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